As práticas de ESG e a educação infantil no país do futuro

Por Carlos Correa |


O termo ESG foi popularmente usado pela primeira vez em um relatório de 2004 intitulado “Who Cares Wins” (“Quem se importa ganha”, em tradução literal), que foi uma iniciativa conjunta de instituições financeiras a convite da ONU. As letras da sigla em inglês representam as palavras Environmental, Social e Governance. Em português poderia ser traduzido para ASG – Meio Ambiente, Social e Governança.

Segundo está no Wikipedia, “os objetivos sociais defendidos dentro de uma perspectiva ESG incluem trabalhar para atingir um determinado conjunto de objetivos ambientais, bem como um conjunto de objetivos relacionados ao apoio a movimentos sociais e um terceiro conjunto de objetivos relacionados as formas de gestão das empresas, que devem considerar demandas dos movimentos sobre diversidade, equidade e inclusão”.

Não é um discurso novo no meio corporativo, mas ganhou uma nova roupagem e um novo impulso a partir do endosso de grandes instituições financeiras internacionais ao modelo. Essas instituições se disseram convencidas que a consideração dos fatores ambientais, sociais e de governança nos processos de gestão das empresas, acabará por contribuir para tornar os mercados de investimento mais fortes e resilientes. Dessa forma, o sistema financeiro internacional passa a adotar algumas diretrizes que irão dirigir o capital para as empresas que adotarem as práticas ESG. O que forçará empresas interessadas em novos aportes (todas?) a correr atrás do tempo perdido e ostentar em suas paredes, alguns certificados que lhes deem salvo conduto na direção dos fluxos de capital.

O desenvolvimento das questões ligadas a governança das organizações passa por reestruturações internas com aprimoramentos nos processos de controles internos, revisão das estruturas de gestão, clareza no trato com o capital e transparência no relacionamento com clientes, fornecedores e entes públicos. São questões sobre as quais as empresas possuem mais autonomia. Questões que, via de regra, realmente auxiliam no sucesso e na longevidade das empresas.

Já as questões ligadas ao meio ambiente e ao social, ultrapassam os limites das empresas e demandam uma compreensão real sobre o mundo que as cerca. As questões ambientais estão no topo dos debates internacionais, nos quais o Brasil desponta para um papel de protagonismo, apesar das diversas interpretações sobre esse papel. Apesar de toda a sua riqueza e diversidade, o país convive com diversos problemas que causam grandes impactos sobre as questões ambientais, sendo que o desmatamento vem sendo o de maior destaque. Mas não se pode deixar de mencionar a degradação do solo causado pela mineração, à poluição dos rios devido ao descarte incorreto do esgoto doméstico e industrial, a poluição do ar causada pelas empresas e pelo tráfego de veículos movidos a derivados de petróleo, à destruição da flora e fauna, o descarte incorreto de resíduos, entre tantos outros. É claro que muitos desses problemas não são exclusivos dos brasileiros, mas isso não tira nossa responsabilidade sobre eles.

As questões ambientais são questões concretas sobre as quais empresas podem se debruçar e, a depender de suas capacitações, interesses ou habilidades trabalhar para minimizar seus impactos. Tanto no que diz respeito à suas próprias emissões quanto para minimizar os impactos desses problemas nas comunidades ao seu redor.

Os problemas sociais também não são pequenos no Brasil e precisam de investimentos em várias frentes. Entre elas está a melhoria na capacitação da força de trabalho e na educação da população em geral.

E é nesse ponto que destaco o papel da educação infantil. Enquanto nossas organizações (públicas e privadas) e nossos cidadãos trabalharem apenas para combater os problemas que lhes afligem, tentando melhorar sua realidade atual, sem tratar suas causas, vamos continuar ostentando esse título triste de “país do futuro”. É preciso dar prioridade na valorização dos professores do ensino básico. Melhorar significativamente sua remuneração, suas condições de trabalho e seu preparo profissional. Só assim os professores vão poder melhorar a qualidade de ensino das crianças, para que elas possam vir a construir um futuro próspero para o país, e para todos que vivem aqui.

E aqui me dirijo às empresas que querem se engajar nas práticas de ESG e, ao mesmo tempo, inovar em suas ações sociais e ambientais. Faço um convite para que analisem projetos que estimulem a educação infantil. Projetos que, além de lhes garantir incentivos fiscais, ainda permitam que as crianças aprendam sobre questões ambientais e seus impactos em suas próprias vidas e em seu futuro. Projetos que, além de lhes propiciar a obtenção de certificados ESG, estimulem as crianças a aprender sobre sua posição na sociedade e que lhes permita crescer como cidadãos produtivos e conscientes de suas obrigações sociais. Aí sim, as empresas investirão, de verdade, no futuro do país e em seu próprio futuro sustentável. Além, é claro, de ainda garantir seu lugar como empresa social e ambientalmente responsável.