Como se preparar para as mudanças no ambiente Onshore no Brasil?

Por Carlos Correa & Eduardo Aragon |


O Brasil passa por uma importante fase de transição no ambiente Onshore. Com a saída do operador dominante, observa-se a criação de um mercado com novos agentes econômicos trazendo pluralidade, diversidade e uma nova dinâmica. Espera-se uma recuperação na produção, tanto de Óleo quanto de Gás Natural, que poderá quadruplicar nos próximos cinco anos com novos investimentos.  

O mercado, entretanto, deverá ser completamente diferente devido a possibilidade de a maior contratante nacional, a Petrobras, reduzir totalmente suas contratações no ambiente Onshore dentro dos próximos três anos.
Como isso vai afetar o setor de prestação de serviços desde o Norte do Espírito Santo até o Amazonas, passando por todo o Nordeste? E toda a cadeia produtiva deste segmento? É necessário que, com urgência, as empresas de prestação de serviços industriais revejam seus cenários projetados dentro do que deverá ser uma nova realidade no mercado nacional.  E muitas perguntas precisarão ser respondidas:

  • Quais serão os novos players desse mercado com a saída da Petrobras?
  • Quais são suas políticas de compra e contratação de serviços?
  • Quais as novas modalidades de contratação?
  • Quais suas exigências corporativas?

Reiterando que não somente a cadeia do E&P está sendo vendida, mas também o refino, tratamento de água produzida, transporte duto-viário e logística, incluindo estações e terminais. São mais de mil contratos vigentes entre a Petrobrás e prestadores de serviços, bens e materiais de todas as áreas nas UO’s BA (que englobou todo o norte capixaba), SE-AL, RN-CE e AM. Além disso, todas as atividades Offshore em águas rasas estão sendo considerados como Onshore pela Petrobras e também serão incluídas nesse processo.

Esse processo abrirá portas para diversas novas oportunidades junto aos novos contratantes, com a retomada de investimentos que, por ora, estão paralisados pela Petrobras. A expectativa é de investimentos expressivos tanto na produção de óleo quanto de gás no Onshore brasileiro, com investimentos em novas Estações de Tratamento, Dutos, Logística e novas Mini refinarias. Estamos falando da movimentação de mais de U$ 2 bilhões nos próximos cinco anos, distribuídos entre os diversos novos players.

Além desses novos players, esse movimento vai englobar algo em torno de 1.000 contratos vigentes com aproximadamente 600 empresas e mais de 10.000 empregos diretos e indiretos envolvidos. Só em atividades de manutenção e operação (OPEX), o montante envolvido ultrapassa mais de US$ 600 milhões, conforme informação extraída do Portal da Petrobras.

Como as empresas que dependem desses contratos estão se preparando para essa grande mudança?

Desde 2017 a BRAINMARKET vem alertando sobre esse tipo de mudança e, agora o momento chegou! Mais rápido do que esperávamos, pois dentro dos próximos dois anos, a maioria desses contratos deverão sofrer várias alterações. Desde reduções (bruscas ou gradativas) até rápidas retomadas já dentro de novos critérios de forma, conteúdo, modalidade e valor. Durante esse processo não se pode descartar a possibilidade de interrupção ou não-renovação de contratos em andamento.

Muitos desses novos players serão empresas internacionais, habituadas a padrões internacionais de contratação, de produtividade e de governança corporativa. Será que o setor de prestação de serviços no Brasil se preparou para isso?

Além da adequação de seus processos internos à normas, requisitos e certificações internacionais, será necessário competir em produtividade com prestadores de serviços internacionais que, certamente, estão atentos a esses movimentos e se apresentarão como alternativa.

Apesar de excelentes quadros técnicos, as empresas brasileiras vêm pecando em seus processos de gestão, pois não basta ter uma boa equipe, é preciso saber geri-la. Alguns estudos feitos por Universidades brasileiras apontam que um dos principais problemas de médias e pequenas empresas brasileiras é a falta de preparo de seu corpo gestor.

Além da gestão de pessoas, os processos incluem os sistemas de controle interno (financeiro, tributário, legal) e de governança incluindo compliance que tratam das relações cliente-fornecedor, da ética corporativa, das políticas de compras e de políticas anticorrupção.

Outro ponto muito importante trata da produtividade. É preciso ser competitivo internacionalmente: investir em tecnologia, novo ferramental, equipamentos, processos e treinamento técnico.

O setor de serviços industriais brasileiro vem se comportando da mesma forma há décadas. É preciso inovar, se reinventar. Com novos players, virão novos métodos, novas regras e novas exigências.

Os modelos de concorrência do passado deixaram de lado a solidariedade, a interdependência e o alinhamento setoriais. Para enfrentar a concorrência internacional que virá, as empresas brasileiras do setor de serviços industriais precisam se apoiar e buscar um crescimento conjunto, valorizando todo o setor, para que possam crescer junto com ele.

É necessário buscar por parceiros que possam contribuir com inovações e novas tecnologias e que possam identificar onde estão essas novas oportunidades e quem serão os possíveis novos players desse velho-novo mercado.

O passado não serve mais para ser usado como base para o futuro: é hora de olhar para a frente e agir!