Economia vai reabrir: o que faço com as pessoas que estão em home-office?

Por Carlos Correa & Guto Lopes |


Então, você fez o dever de casa e fez um mapeamento correto das tecnologias que precisa: alugou ou comprou notebook para todos os que precisam e entende que está tudo funcionando no modelo novo de home-office. E a economia vai abrir. O que você faz? Deixar tudo e todos como estão e já começar a pensar na redução de custos de infraestrutura?

Não! A forma improvisada que você usou para continuar operando, certamente, não é a melhor forma de operar rotineiramente. Sugerimos que, na primeira hora após o fim da crise, você traga todo mundo de volta para o escritório.

Antes de mais nada, é importante refletir um pouco mais. E essa reflexão precisa ser feita em conjunto com todo o time. E sim, presencialmente. Só eles sabem os problemas que tiveram. Seria realmente efetivo avaliar o resultado do trabalho remoto, remotamente? Pense que trabalhamos no “modo crise” nos últimos meses. Pode ter funcionado bem ou não: não sabemos ainda.

O que é preciso fazer, então?

Primeiro, é preciso avaliar o desempenho antes e depois do home-office. Encontre indicadores que permitam que a avaliação seja a mais objetiva possível e que mostre a produtividade do time. Será que geramos ‘backlogs’ ocultos que não pudemos avaliar durante a crise? Será que executamos todas as atividades importantes? E os erros e as inconsistências? Fechamentos e encontros de contas serão vitais nessa volta.

Com o mapeamento do que funcionou e o que não funcionou em mãos, precisamos ainda definir quais processos devem ser reavaliados para trabalhar de forma remota.

Como será a contratação de novos funcionários? Quais os treinamentos necessários para a nova forma de atuar? Como eles vão conhecer os demais membros do time? Se já não é simples montar equipes eficazes presencialmente, como será para formá-las a distância? Como transferir o conhecimento tácito, que ainda é muito usado em tarefas não automatizáveis, nesse novo modelo?
A criatividade que alavanca a inovação, muitas vezes é fruto do debate entre as equipes. Como acontecerá a distância? Até agora, apenas testamos equipes maduras em home-office durante a crise. Trabalhar isso de forma estrutural e sustentável é realmente outra problemática.

Os clientes terão comportamentos diferentes. Não se sabe ainda como serão, mas precisaremos montar um time para atendê-los. Como fazer isso com as pessoas a distância?

É claro que é possível vislumbrar um grande potencial de redução de custos de infraestrutura, mas e os custos necessários para equipar seu pessoal em casa? Internet de alta velocidade, contas de luz, de celular? Durante a crise houve uma preocupação geral de todos que, com medo de perder seus empregos, não criaram problemas para usar seus próprios dispositivos e infraestrutura. Mas e em um modelo definitivo? Que suporte as empresas precisarão dar aos funcionários que ficarão em casa? É possível transferir os valores de vale-transporte, por exemplo, para pagamento da internet? Como a legislação nos suportará nesse assunto?

Por mais contraditório que pareça, nossa visão é que os times devem voltar aos escritórios. Refletir, avaliar e planejar. Já sabemos que é possível trabalhar remotamente em meio a uma crise, mas precisamos entender como será o tal “novo normal”, sobre o qual já conversamos em blogs anteriores.

Uma coisa é certa: ninguém foi treinado para o que estamos enfrentando.

Jogar sobre o pessoal que está trabalhando em casa, sem nenhum preparo prévio, a culpa por possíveis desempenhos abaixo do normal não parece justo. Não é raro observar problemas em web-meetings e webinars envolvendo empresários e executivos altamente qualificados: são aplicativos que não funcionam, internet fora do ar e vídeos ou microfones com problemas.
Alguns são pegos de surpresa e aparecem sem camisa ou vendo TV e, não faltam desculpas bem-humoradas como: “…TI é assim mesmo” ou “…o problema está entre o teclado e a cadeira”. Se isso acontece com os líderes das empresas, porque não aconteceria com o restante do pessoal. Trocar pessoas depois delas terem improvisado em um momento sem precedentes, sem nenhum treinamento prévio, não vai resolver o problema como em um passe de mágica. Não é hora de abrir mão de seu pessoal e sim, logo que possível, trazê-los para perto, aperfeiçoar seu treinamento e definir as novas estratégias.

Estamos acostumados a olhar para trás e usar as soluções do passado para resolver os problemas do presente. É sábio olhar para o passado, pois sem aprender com o passado não se constrói o futuro. Entretanto, para esses novos problemas não valem as velhas soluções.