A coopetição nas indústrias maduras
Por Carlos Correa |
Cooperação pode ser conceituada tradicionalmente como a interação entre partes relacionadas de forma não-hierárquica, para atingir um objetivo comum. Também na forma tradicional de se pensar a concorrência, seus serviços e produtos competem com os de seus concorrentes e apenas um deles vence. Combinar esses dois conceitos pode parecer paradoxal, mas é exatamente isso que o novo milênio nos traz: a coopetição – um neologismo, que combina cooperação com competição.
Esse conceito ganhou projeção no início deste século, através das empresas digitais, entrelaçado com o conceito de inovação aberta e contribuindo para a criação e crescimento de novos mercados.
Inovação aberta ou open innovation é um termo criado por pesquisadores da Harvard Business School, com a ideia de promover inovação de forma cooperativa e diversa. A partir desse conceito, tanto start-ups quanto médias empresas, ou mesmo grandes conglomerados ligados a produtos digitais, se utilizam de bases de desenvolvimento que estão ao alcance de todos, deixando os conhecimentos gerados a partir daí, também ao alcance de todos. Se por um lado, esse conceito aumenta em muito a velocidade do desenvolvimento de novos produtos e serviços, por outro rompe com a ideia tradicional de propriedade sobre a criação intelectual. O crescimento estrondoso das empresas digitais não deixa dúvidas quanto ao sucesso dessa abordagem. Atualmente, é bem provável que se encontre aplicativos para quase tudo que se precisa. E se não encontrar, alguém poderá desenvolvê-lo rapidamente. A criação de valor não está mais no segredo sobre o conhecimento e sim na velocidade de sua aplicação. Quem for mais ágil e mais veloz, sai na frente e ganha o mercado. Mas cuidado! Se ficar parado apreciando seu sucesso, será ultrapassado logo na curva seguinte. A coopetição e a inovação aberta não apenas construíram um novo mercado como também trouxeram uma nova forma de gerir empresas. No lugar de segredo e estabilidade, o compartilhamento de informações e a velocidade.
Há quantas décadas a indústria baseada no petróleo, por exemplo, se comporta basicamente da mesma forma? Movendo-se lentamente como um grande dinossauro e sem grandes inovações e tentando, baseada no seu poder econômico, manter sua hegemonia contra as inovações que surgem com produtos alternativos? Até quando isso pode durar?
Outras empresas e setores também ficaram sentados sobre o sucesso do passado. Podemos citar como exemplos: a Victoria’s Secret, que acabou declarando falência, a Zara que já fechou 1.200 lojas, a Chanel que já foi descontinuada, assim como Patek Philippe e Rolex interromperam sua produção. A indústria de luxo do mundo desabou perante a crise do Novo Coronavírus. Além disso, enquanto a Nike reserva um total de US$ 23 bilhões, se preparando para uma segunda etapa das demissões, a Starbucks anuncia o fechamento permanente de suas 400 lojas, a Hertz, maior empresa de aluguel de carros e a Comcar, maior empresa de caminhões dos EU entram em falência, o maior shopping da América (Mall of America) para de pagar suas hipotecas e a Emirates, companhia aérea mais respeitável do mundo, está demitindo 30% de seus funcionários. Será que ainda dá pra acreditar que tudo voltará a ser como antes?
A coopetição sugere o compartilhamento de informações entre os atores do mesmo setor na busca de um caminho de futuro para os mercados. Ao invés de esperar o mercado surpreendê-los, tentar desenhar um novo mercado. Os conceitos de coopetição e de inovação aberta mudam a premissa de que uma empresa sozinha tem os melhores gestores e os melhores recursos para poder executar os melhores serviços ou encontrar as melhores soluções para um problema, sem depender de mais ninguém. A coopetição sugere união de forças para a execução de projetos que podem propor um novo futuro para um setor. Como consequência, além de resultados aprimorados, isso possibilita também complementar a formação de seus profissionais, deixando-os preparados para enfrentar os novos desafios. Essa mudança de abordagem empresarial pode ser um caminho muito vantajoso para empresas, mostrando que nem sempre é preciso aumentar os custos ou contratar mais pessoas para complementar as equipes e melhorar processos de trabalho. Atualmente, cada empresa dos setores maduros tem seu quadro próprio de profissionais, sua oficina, seus escritórios ou seus escritórios de contabilidade e de advocacia. O conceito de coopetição, avalia a possibilidade de compartilhamento de parte desses ativos, ficando exclusivo apenas aquilo que diferencia as empresas: gestão, estratégias e modelos de negócio.
Definir quais atividades devem ou podem ser compartilhadas exige uma avaliação particular de cada empresa, seguida de uma avaliação conjunta, pelo conjunto dos coopetidores. Entender esse (já nem tão) novo mundo e mudar sua abordagem de gestão, pode significar a diferença entre uma relargada ágil, organizada e efetiva ou uma relargada cheia de retrabalhos e “batendo cabeças” na retomada ainda incerta da economia.