Novas recomendações e hábitos de saúde: a herança da COVID-19

Por Carlos Correa & Manoel Carnaúba |


Ainda no meio da turbulência da crise causada pelo Novo Coronavírus, crescem as preocupações sobre seus impactos na saúde das pessoas e sobre como governo e empresas deverão reagir.

Já se debate a caracterização como doença ocupacional para os profissionais de saúde que contraíram a COVID-19 em seus postos de trabalho. A MP 927, de 22/03/2020, dispôs sobre medidas trabalhistas de enfrentamento da pandemia e sobre a caracterização ou não da COVID-19 como doença ocupacional. Entretanto, em 29/04/2020, o STF decidiu pela suspensão da eficácia dessa MP, permitindo a análise de eventual contaminação de profissionais pelo Novo Coronavírus ser considerada como doença ocupacional. Tudo é muito novo e os debates ainda estão concentrados nos profissionais de saúde, mas certamente atingirão aos demais setores. As empresas terão que rever os protocolos de saúde ocupacional? Novos exames serão obrigatórios? Novos EPI’s? Como será o uso de máscaras e roupas especiais? As empresas serão obrigadas a disponibilizar álcool em gel? Qual o impacto dessas mudanças nos custos operacionais?

Devemos lembrar que após o atentado de 11 de setembro de 2001, as regras da aviação internacional mudaram bastante. Será que impactos semelhantes não acontecerão no âmbito da saúde? Tanto na saúde dos trabalhadores, com grandes impactos diretos sobre as empresas, quanto na saúde da população em geral, também trazendo impactos para as organizações. Nesse caso, impactos indiretos.

Dentro dos grupos de risco que estão trazendo mais preocupações para empresas, governos e especialistas da saúde, estão os idosos e os portadores de doenças crônicas (diabetes, hipertensão, asma) como sendo mais suscetíveis a complicações com o novo vírus. Entretanto, eles podem estar aptos para o trabalho, com sua saúde sob controle.

Como agir enquanto não houver uma vacina ou um tratamento comprovado? Eles devem continuar afastados?

Haverá um limite pós-surto para que essas pessoas possam retornar a suas atividades normais? Por quanto tempo? E nesse meio tempo, o que acontecerá com eles? Serão novos párias sociais? No caso específico dos idosos (acima de 60 anos), não podemos esquecer que em novembro do ano passado, o Congresso promulgou a reforma da previdência, alterando para 62 e 65 anos a idade de aposentadoria para mulheres e homens, respectivamente. Eles precisam continuar trabalhando.

As questões sobre os grupos de risco podem não se ater apenas aos trabalhadores e se estender aos familiares. Profissionais fora dos grupos de risco, que convivem com pessoas dentro desses grupos, poderão manter sua rotina profissional? As empresas vão precisar saber se seus funcionários convivem com pessoas dentro dos grupos de risco?

E nos locais de trabalho? Como ficarão as distâncias mínimas entre integrantes de uma mesma equipe?

As mesas serão afastadas? E nos refeitórios? Como será a regulamentação a respeito? Existem artigos afirmando que o vírus viaja por particulados suspensos no ar. O que acontecerá em salas com sistemas de ar condicionado central? Esses aparelhos poderiam transferir ar “contaminado” de um ambiente para o outro? Ou, ao contrário, sendo ultrafiltrados eles poderiam livrar o ar das contaminações? Como ficarão as rotinas dentro das organizações? Já se observa nos países que estão tentado retomar a economia, que ônibus, trens e metrôs têm assentos marcados que precisam ficar vazios para que algum afastamento seja mantido entre as pessoas. O que acontecerá nos transportes de funcionários? Vamos duplicar o número de ônibus?

Além das questões diretamente ligadas aos protocolos de saúde, ainda precisam ser estudadas questões ligadas ao recebimento de materiais e insumos e à expedição de produtos. Como serão os protocolos de higienização desses materiais? Qual o potencial de contaminação dos profissionais envolvidos nessas atividades?

Se temos muitas perguntas sem respostas sobre como as empresas terão que se posicionar frente a novos protocolos de saúde para seus funcionários, a complexidade aumenta muito para os prestadores de serviço que, além de cuidar de seus próprios protocolos, precisarão atender também aos protocolos dos contratantes. Muitos contratantes são filiais de grandes multinacionais que precisarão atender a protocolos internacionais definidos por suas matrizes e, que poderão ser diferentes. Nesses casos, todos os desafios ligados aos grupos de risco poderão ser potencializados.

Pelo que estamos acompanhando, as principais preocupações das empresas nacionais estão depositadas sobre os faturamentos ainda em aberto, o pagamento de salários de seu pessoal, cancelamentos ou renovações de contratos e sobre como vão conseguir sobreviver à crise econômica. Totalmente compreensível, mas se as empresas não pensarem a respeito das questões ligadas à saúde e não se mobilizarem, alguém fará isso em seu lugar e as regras serão impostas.

O tema saúde poderá ser muito mais transformador para as empresas do que a tecnologia ou o badalado home-office.